O Capital como Meio: Um Chamado à Consciência no Século XXI – Rosalvi Monteagudo é é pesquisadora, escritora e membro da ACI

Escrito em 04/07/2025
Mundo Coop

No século XXI, é urgente recuperar uma verdade fundamental: o capital deve ser um meio, e não um fim em si mesmo. Esta afirmação simples carrega uma ruptura ética profunda com a lógica dominante. Durante séculos, a economia global foi construída sobre o princípio da acumulação — onde o dinheiro passou a reger as relações humanas, políticas e ambientais. Mas essa inversão de valores levou o mundo ao colapso.

Hoje, em 2025, vivemos uma sociedade endividada, desigual, ansiosa e ferida. O capital, que deveria servir à vida, passou a comandar a vida, impondo metas desumanas, lucros a qualquer custo e decisões centralizadas em índices de rentabilidade, e não em necessidades humanas.

O Capital que Deixa de Servir

Quando o capital se torna fim, ele passa a operar como uma engrenagem fria e impessoal:

  • As empresas deixam de produzir o necessário e passam a fabricar o que dá lucro;
  • Os governos deixam de proteger o povo e passam a proteger os mercados;
  • As pessoas deixam de viver e passam a sobreviver em busca de rendimento, crédito e consumo.

O resultado? Fome em meio à abundância. Doença em meio à ciência. Isolamento em meio à conectividade. O capital tornou-se o novo ídolo, e a humanidade, sua serva.

O Cooperativismo como Resposta

É preciso, com coragem, avaliar o papel do capital neste novo século. E nesse caminho, o cooperativismo traz uma alternativa concreta e histórica: colocar o capital a serviço das pessoas, da coletividade e do bem comum.

Na economia cooperativa:

  • O capital é instrumento de trabalho, e não de dominação;
  • Os recursos pertencem aos que produzem, não aos que apenas investem;
  • O lucro se transforma em benefício comum, não em poder concentrado.

O Fim da Lógica Extrativista

Transformar o capital em meio significa romper com a lógica extrativista, que drena riqueza dos territórios para alimentar centros de poder. Significa criar fundações cooperativas, fundos de sustentabilidade, moedas comunitárias e formas de circulação da riqueza que respeitem a vida, a natureza e os saberes locais.

Isso não é utopia: é uma nova racionalidade econômica, uma ética do suficiente, baseada na intercooperação, no uso consciente e no equilíbrio.

Avaliar é o Primeiro Passo

Avaliar o papel do capital no século XXI é tarefa inadiável. Essa avaliação precisa ser feita por comunidades, universidades, redes de cooperação, juventudes e lideranças comprometidas com um novo modelo de desenvolvimento.

É hora de perguntar:

  • A quem o capital está servindo?
  • Está ele promovendo a vida ou o controle?
  • Gera autonomia ou dependência?

Responder a essas perguntas é o primeiro passo para descolonizar a economia e abrir caminhos para uma sociedade justa, solidária e verdadeiramente democrática.

Conclusão

O capital deve circular como o sangue: nutrindo, conectando, servindo à vida. Nunca como um senhor que impõe sua vontade sobre a humanidade. Quando o capital se torna fim, ele adoece o mundo. Quando é meio, ele pode ajudar a curá-lo.

O século XXI não pode ser governado pelo capital. Deve ser organizado pela cooperação, pela justiça econômica e pela consciência coletiva. O tempo da inversão precisa acabar. E ele acaba quando reconhecemos o capital pelo que ele é: um instrumento — e não um destino.


Rosalvi Monteagudo é pesquisadora, escritora e membro da ACI

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